terça-feira, 7 de junho de 2011

Andando com Jesus

“[Jesus] dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia após dia tome a sua cruz e siga-me”.
Jesus Cristo nos chama a segui-lo. Tal convite não pode ser respondido com um mero levantar de mão em nossos cultos ou em mega evento evangelístico; milhares de mãos se levantando, respondendo sim ao apelo de seguir Jesus. Mas se este gesto não for acompanhado de enxugar lágrimas dos aflitos, de dar água e pão aos pobres, curar as feridas dos flagelados, impor as mãos sobre os doentes ou uni-las em oração e prece, então este gesto não significa nada. Não passa de coreografia religiosa, ilusão para os servos da idolatria estatística e fantasia para os que pretendem povoar o céu a partir da graça barata.

Seguir Jesus não é ser modelado dentro do estreito terreno dos condicionamentos psicológicos, culturais e religiosos do nosso meio. Entre nós a conversão é muitas vezes é pura mímica e não o nascer de uma nova criatura. A conversão não é na nossa superficial e frequentemente hipócrita cultura evangélica, a assimilação de chavões, palavras, gestos feitos. É religiosidade que por vezes Jesus odiou e reprovou.

Seguir Jesus também não é apenas vida moral e social ajustada. Ser honesto, caridoso, bom pai, bom esposo, bom vizinho e um bom profissional. Esta vida certinha ainda está dentro do ordinário. O seguir a Jesus está no nível do extraordinário é extrapolar os melhores hábitos e ir tão além que beira o desajuste.

Seguir Jesus é obedecer a princípios imutáveis, mas também é ser livre como o vento que sopra. Quem anda com Jesus, ao mesmo tempo em que vive obediente a Deus, descobre a pessoa dinâmica que deve ser, conforme a expressão da sua inerente potencialidade e mediante os variados dons espirituais que a graça de Deus acrescenta à vida de cada cristão.

Jesus não violenta o coração, não faz apelos emocionalmente irresistíveis, não coage a alma humana, não faz lavagem cerebral. Seu convite ao discipulado começa com um "siga-me". Ninguém é forçado a aceitar. O candidato ao discipulado tem que se sentir em liberdade, pois Jesus mostra que há opções. Todavia, a opção para fora do discipulado é morte, escravidão e gemido.

Deve ainda o discípulo ter a coragem de aceitar que sua conversão pode dividir a família. É possível que haja uma ruptura na sua casa. Pode surgir uma guerra emocional e religiosa do pai incrédulo contra o filho convertido, ou do filho rebelde contra o pai arrependido; da mãe beata contra a filha que mudou de religião, ou da filha renitente contra a mãe recém-convertida; da sogra falante contra a nora humilde, ou da nora avançada contra a sogra considerada quadrada por causa de Jesus.

O discípulo deve saber que seus inimigos poderão ser os da sua própria casa. Deve, no entanto, estar informado de que no Reino de Deus existe o milagre da multiplicação dos relacionamentos interpessoais e dos privilégios sociais: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou mãe, ou pai, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba já no presente o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no mundo por vir a vida eterna.

É indispensável ainda que o discípulo saiba o que quer, porque a vida de um seguidor de Jesus é comparável à de um sentenciado à morte: ele pode morrer de morte violenta ou não, mas, em qualquer dos casos, existe morrendo para poder morrer vivendo. Quem quiser preservar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder, de fato a salvará. No Reino de Deus convive-se com o paradoxo de que achar a vida é perdê-la, e perder a vida por Jesus é achá-la.

O discípulo, para aprender de Jesus, tem que ter a palavra do Mestre como o ponto de partida, o ponto de apoio, o ponto de referência, o ponto de vista e o ponto de chegada. "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha".

O discípulo tem que estruturar a sua vida única e exclusivamente sobre a Palavra de Deus. Não há outra base. Seus pontos de vista são os de Deus. Sua estrutura é a verdade do reino de Jesus. As opiniões próprias são sepultadas quando alguém se dispõe a ser um aprendiz do Mestre. Qualquer outra obsessão termina quando começa o discipulado.

Seguir Jesus é caminho sem retorno. Pelo menos é assim que o candidato deve encarar. "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o Reino de Deus". Não pode haver hesitação. Avançar é a única alternativa viável. O discípulo diz: "Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus".

O caminho com Jesus não conduz aos palácios, às mansões majestosas ou às alturas da glória do mundo. Seguir o Mestre leva mais facilmente ao desabrigo, é mais provável que vá dar em um pequeno apartamento do que em uma suíte presidencial. “As raposas têm os seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. Diante de tais conclusões, um candidato ao discipulado desistiu do percurso existencial, social, econômico e espiritual da trajetória cristã.

Seguir Jesus é como subir a escada de Jacó; só termina no céu. É obra a ser realizada em todo lugar e a todo instante. Até dormindo tem-se que estar alerta. Diante de todas essas colocações é que fica clara a razão de o discípulo desejar o discipulado e estar decidido a seguir o Mestre.

Nos dias em que vivemos, quando a mensagem do Evangelho tem sido insípida e diluída, sem substância, talvez me julguem estar exagerando ou tentando direcionar os desafios de vida aqui expostos para uma classe de pessoas especialmente selecionada. Acontece que a Bíblia não conhece distinções. Não há clero, laicato, pessoas de tempo integral e de tempo parcial, o grupo dos crentes simples e dos discípulos engajados. Jesus só tem uma categoria de seguidores: discípulos. Para estes, sua salvação é comum; sua vocação também; os privilégios, idênticos. Se convidamos as pessoas a seguirem a Jesus sem sermos honestos com elas, mostrando-lhes até onde pode levar a coerência desse estilo de existir em Cristo, estaremos sendo mercadores da Palavra de Deus, não discipuladores.

O segredo está em aprendermos a colocar todas essas coisas sem o peso do legalismo, do modismo da santidade aparente e da pseudopiedade. É o amor de Cristo que nos constrange a viver dentro desse padrão. Trata-se de vida. E o que tem relação com a vida é natural. Cristo não nos chama para um desempenho teatral, mas para uma proposta de vida. E se o amor for a fonte propulsora dessa existência, seguir-lhe os passos torna-se algo natural. Em vista disso, quando um discípulo cai, Jesus apenas questiona seu amor: Tu me amas? Se me amas, então segue-me.

0 comentários: